Depois de dois adiamentos em decorrência da pandemia da covid-19, o Lisboa voltou a acontecer na capital portuguesa em 2022. Neste segundo e último final de semana de atividades, ele reuniu cerca de 150 mil pessoas e foi marcado por manifestações políticas de artistas brasileiros, pedido por paz na Ucrânia e shows elogiados de e Ney Matogrosso.
No sábado, a primeira banda brasileira do dia a se apresentar no festival foi Francisco, El Hombre. Os artistas que misturam a musicalidade latina fizeram um show com manifestações políticas e críticas ao presidente no palco Rock Your Street. Começou com poucos presentes, mas conquistou curiosos que permaneceram até o final.
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No mesmo local, porém, hoje, às 20h (16h no horário de Brasília) foi a vez de Johnny Hooker. No palco, ele lembrou a morte de seu baixista, André Soares, por covid-19, e criticou a demora na aquisição de vacinas por parte do governo federal em 2020.
“A gente tem um governo genocida no Brasil que atrasou a chegada das vacinas. Meu amigo André (Soares), que era meu baixista, morreu de covid. Por todos que morreram na pandemia com esse governo assassino, nós vamos fazer justiça. Não vamos esquecer vocês (vítimas da covid)”, disse
A opinião do cantor estimulou o público, formado majoritariamente por brasileiros, a gritar contra o atual presidente. Os fãs também repetiram o feito nos shows de Rebecca, no Galp Music Valley, e de Anitta, no Palco Mundo, gritando “Fora Bolsonaro” e outras fases de protesto. Além disso, brasileiros também usaram bandeiras com as cores Brasil e em protesto ao governo.
O domingo, que teve ingressos esgotados e 80 mil presentes, foi marcado ainda pela greve do metrô na cidade, o que prejudicou a chegada do público. Houve reforço nas linhas de ônibus da cidade e em ônibus especiais do evento. O público ouvido por Splash optou por ir à cidade do Rock de táxi ou pediram carros por aplicativo.
Aclamação de Anitta
Anitta subiu ao Palco Mundo do último dia de Rock in Lisboa e foi aclamada pelo público presente. Desde o início da tarde, fãs se aglomeravam na grade para ficar pertinho da artista carioca de 29 anos que apresentou o mesmo cenário do Coachella, mas trouxe uma nova setlist.
De verde, azul e amarelo, representando as cores da bandeira brasileira, Anitta entrou no palco montada na garupa de uma moto, fazendo alusão ao mototáxi, para cantar “Onda Diferente”. Em conversa com a imprensa antes do show, Anitta disse que a seleção de músicas foi pensada especialmente para a edição portuguesa e contou com a ajuda de amigos e fãs locais pelas redes sociais.
Anitta, em diversos momentos, dançou passinhos do carioca no palco, em especial, mas o momento mais vibrado pelos presentes foi na faixa “Movimento da sanfoninha”, quando ela faz o quadradinho.
Anitta deixou tudo mais íntimo quando levou o namorado, Murda Beatz, e a família ao palco e levantou a bandeira do Brasil durante a faixa “Rave de favela”. Rebecca, que cantou no palco Galp Music Valley, também foi convidada por Anitta e subiu para cantar “Combatchy” e “Favela chegou”, parceria originalmente com Ludmilla.
Outro momento que chamou atenção foi quando Anitta pegou a bandeira da Espanha de um fã e levou ao palco, o que desagradou alguns portugueses. Mas o fato não atrapalhou a performance da brasileira, que foi elogiada pelos presentes.
Além do funk, outro gênero musical apresentado foi a bossa nova. Ela cantou parte de “Garota de Ipanema”, de Antonio Carlos Jobim, Norman Gimbel e Vinicius De Moraes, que foi usada como sample para “Girl From Rio”, faixa do novo CD, “Versions of Me”. “Gata”, *Que rabão” e “Envolver” também não ficaram de fora. Ela deixou “Show das Poderosas” para o final, primeiro hit da cantora em Portugal.
FOI SHOWZAÇOOO!Obrigada por este concerto inesquecível, ! Ainda estamos a tentar recuperar
— Rock in Rio Lisboa (@rockinriolisboa)
Quem passou pelo Palco Mundo?
Além de Anitta, subiram ao palco mundo, neste domingo, os portugueses da banda de soul “HMB” e os norte-americanos Jason Derulo e Post Malone, headliner da noite. Bush, UB40, A-Ha e Duran Duran se apresentaram na noite anterior, dando ar oitentista à noite repleta de new wave.
Simon Le Bon, vocalista do Duran Duran, inclusive, pediu pela paz na Ucrânia e dedicou o sucesso “Ordinary World” às vítimas da guerra. A bandeira do país ficou exposta no telão durante toda a canção.
“As pessoas da Ucrânia estão sofrendo com uma experiência inexplicável, inimaginável. Nós gostaríamos de dedicar esta aos ucranianos, nós desejamos a eles amor, bondade, alegria, vida e sucesso em seu país. Essa música é sobre acreditar na bondade do mundo e da raça humana”, disse antes de cantar a faixa.
Ney Matogrosso elogiado
Depois de dois anos sem fazer shows no exterior, Ney Matogrosso voltou à Europa para subir ao palco do Rock in Rio Lisboa em um show coerente a sua trajetória, com muito rebolado e até batida de funk em “O Último Dia”. O artista interagiu pouco com o público, limitou-se a agradecer os elogios dos portugueses, que lotaram o espaço à frente do palco Galp Music Valley, o segundo maior da edição lusitana.
“Ele está a frente do seu tempo”, comentou um casal português que assistiu ao show do brasileiro pela primeira vez.
Apesar de não ter feito comentários políticos, o cantor reverenciou a questão indígena ao projetar imagens no telão durante a música “Ponta do Lápis”.
Na abertura, ele foi aplaudido com a música “Eu Quero É Botar Meu Bloco Na Rua” (sucesso de Sérgio Sampaio que dá título à turnê atual de Ney). “Sangue Latino”, “Como dois e dois” e “Poema” também movimentaram a plateia.
* O repórter viajou a convite da organização do evento