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IFSP pesquisa tecnologia que viabiliza patente internacional – IFSP

Tecnologia permite identificar imediatamente a qualidade de bebidas e combustíveis  

O desafio lançado ao Laboratório James Clerk Maxwell do Campus Cubatão do IFSP pela Meta Globaltech foi audacioso: desenvolver uma tecnologia que aferisse em tempo real a qualidade de produtos dos setores de combustíveis, leiteiro, de azeite de oliva e de bebidas alcoólicas, entre outros materiais dielétricos. Tarefa cumprida, o equipamento desenvolvido resultou em uma patente da inovação tecnológica que já foi aprovada em 12 países diferentes e recebeu a certificação do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) no Brasil.   

Tudo começou no fim de 2019, com a inquietação de Antonio Rebouças de França Filho, CEO da Meta Globaltech e diretor no Departamento Defesa e Segurança da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), que buscava uma tecnologia para aferir rapidamente a qualidade de certos produtos. Segundo Antonio, o azeite de oliva é o produto mais fraudável do mundo, e o leite, o terceiro.   

O Laboratório James Clerk Maxwell (LabMax) do Campus Cubatão do IFSP, especialista em micro-ondas e eletromagnetismo aplicado, foi então procurado pelo empresário, e lá, foram iniciadas as pesquisas que solucionaram o problema apresentado.   

Pesquisa  

Da esquerda para a direita: Antonio Rebouças de França Filho, Antonio Mendes de Oliveira Neto, Alexandre Maniçoba de Oliveira e Gabriel Dinis VianaPesquisador sênior e líder do grupo LabMax, o professor doutor Alexandre Maniçoba de Oliveira conta que, inicialmente, foi realizado um protocolo de intenções, um termo de sigilo e confidencialidade e uma série de reuniões e diálogos com a empresa. Todo o processo contou com o apoio da Agência de Inovação e da Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação do IFSP. “Surge um contrato de parceria de desenvolvimento tecnológico com base nas demandas apresentadas. Consequentemente, são desenvolvidos os primeiros protótipos, utilizados para provas de conceitos e, depois, para desenvolver toda uma tecnologia de processamento de sinais capazes de desenvolver a identificação de produtos orgânicos com base em parâmetros coletados anteriormente”, explica.   

Os estudos, realizados pelos pesquisadores do laboratório, juntamente com seus alunos, resultaram em leitores eletromagnéticos que “aferem o DNA dos produtos, para saber se estão dentro do padrão”, resume Antonio Rebouças. Nesses protótipos, coloca-se cerca de 70 ml de qualquer líquido. O equipamento de eletromagnetismo imediatamente combina a análise eletromagnética do padrão para o produto analisado. Qualquer desvio de 0,1%, é identificado e a Inteligência Artificial afere um percentual de acerto ou desvio daquele produto.  

O CEO explica que a tecnologia desenvolvida no IFSP resolve o lapso temporal entre o recolhimento de uma amostra, o envio para análise em laboratório e a divulgação do resultado, que leva dias. “Nesse tempo, pode haver a alteração das amostras, uma ação judicial que coíba a atuação do governo, como a lacração de uma bomba de gasolina ou a interrupção da produção de uma bebida adulterada”, aponta Antonio.  

A solução desenvolvida — que funciona tanto em um aparelho portátil quanto em linha de produção na indústria — gerou um contrato para pedido de patente internacional com a titularidade da Meta Globaltech e o pagamento de royalties para o IFSP. A empresa possui exclusividade de produção e de comercialização do produto.   

Esta foi a primeira iniciativa de geração de royalties feita por uma empresa privada no estado de São Paulo.   

A patente já foi deferida em 12 diferentes países. A tecnologia também recebeu a certificação do Inmetro para análise de combustíveis fósseis, etanol e azeite de oliva. Outra certificação concluída nesta semana, foi para avaliação de bebidas alcóolicas (whisky, cerveja e outros), refrigerantes, terras raras, minerais estratégicos e leite.   

Para Antonio Rebouças, o grande benefício desse resultado é coibir os produtos ilegais e incentivar a indústria brasileira, para que possa entregar produtos com padrões de qualidade que produtos fraudados não poderão atender, bem como gerar impostos, empregos e benefícios para a sociedade consumidora.   

Alexandre Maniçoba complementa: “a visão empresarial nos orienta para a pesquisa aplicada e nos motiva na medida em que os benefícios sociais são importantes e mudam a realidade tecnológica de nosso país. Sabemos que o resultado do controle de combustíveis e bebidas em tempo real será a geração de mais arrecadação, havendo o círculo virtuoso de mais investimentos pelo governo. Muito nos alegra ver esses fatores positivos”.   

Tecnologia pode ser utilizada em equipamento portátil ou em linha de produçãoO professor avalia que o resultado desse trabalho representa o reconhecimento da indústria local ao trabalho de pesquisa do LabMax e dos professores do IFSP. Para que alcance projeção, o laboratório realiza eventos como o WMO — Workshop de Micro-ondas, reunindo diversas instituições acadêmicas e gerando repercussão internacional. “O Instituto Federal do Ceará é uma das instituições participantes e seu reitor, Wally Meneses, nos indicou à Meta Globaltech”, revela.   

O diretor da Agência de Inovação (Inova) do IFSP, Eder Sacconi, destaca que a pasta busca justamente atender às demandas do setor produtivo por meio do quadro de pesquisadores altamente qualificados da Instituição. “O objetivo é que possamos impactar efetivamente o mercado brasileiro e internacional. O desenvolvimento dessa solução comprova essa teoria justamente num momento em que esse tipo de análise se faz muito necessária. Diante do problema que temos vivido em relação à adulteração de bebidas alcoólicas, já temos uma solução pensada com o setor produtivo e pronta para aquisição e utilização em larga escala”, reflete.  

Pesquisadores 

As pesquisas desenvolvidas no Laboratório James Clerk Maxwell contaram com a participação de alunos bolsistas do Campus Cubatão do IFSP. Gabriel Dinis Viana, então aluno do 9º semestre do curso de Engenharia de Controle e Automação da unidade relata que, no projeto com a Meta Globaltech, realizou Prova de Conceito e testes práticos, simulando alterações em substâncias e analisando os resultados, além do desenvolvimento do software de interface de comunicação do equipamento com o computador, desenvolvidos pelos profissionais da Meta Globaltech. 

Após atuar como bolsista, Gabriel foi contratado e hoje ocupa o cargo de gerente operacional da empresa. Na posição, ele trabalha para melhorias técnicas da tecnologia: “desenvolvemos um método de análise automática dos resultados do sensor e hoje também cuido da gestão das certificações e conformidade técnica do equipamento”, resume.   

Além de Gabriel e do professor Alexandre Maniçoba, outros membros completaram a equipe de pesquisadores da missão: o professor doutor Antonio Mendes de Oliveira Neto e os estudantes Raimundo Eider Figueredo Sobrinho, José Mario Dionizio Jr., Gustavo Ferreira Vicentine, Mylena Ribeiro Francischini, Kauê Silva dos Santos, Stiven Richardy Silva Rodrigues e Fuyuki Murassawa.   

Todo esse processo, no entanto, só foi possível porque o pesquisador sênior iniciou, em 2016, um intenso trabalho de formação e estruturação do grupo que compõe o LabMax. “Entre 2016 e 2019, eu tinha um objetivo: tornar a mim e minha equipe uma referência mundial no desenvolvimento de sistemas de micro-ondas”, ressalta.  

Além da pesquisa apresentada, há várias outras em andamento no LabMax. Entre elas, aponta o professor Alexandre, está a pesquisa de Imagens de Micro-ondas de Campo Próximo voltada para detecção de Câncer Cerebral Infantil. “É vital que os alunos pesquisadores e os professores cientistas tenham uma visão da realidade da indústria para que seja possível o foco em pesquisas que gerem inovação”, conclui.  

Para os estudantes, é difícil mensurar a importância de passar pelas mãos de profissionais tão qualificados e ter acesso a equipamentos de ponta. “Primeiro, o corpo docente de alto nível me deu a base teórica essencial — conceitos que uso no dia a dia, de estatística a eletromagnetismo. Segundo, o IFSP foi um campo de oportunidades que não se limita à sala de aula. Dessa forma, pude ser bolsista de ensino no Laboratório Maker, participei de uma iniciação científica em parceria com uma empresa do Porto de Santos, e claro, iniciei o projeto da patente com a Meta Globaltech.  O Laboratório Maxwell, com equipamentos de ponta, foi fundamental. O IFSP me deu a base teórica e, ao mesmo tempo, as ferramentas e oportunidades para aplicar esse conhecimento em projetos reais e complexos”, reflete Gabriel, formado em Engenharia de Controle e Automação em 2024.