Três vezes por semana, a costureira Djane Antério dá uma pausa no trabalho no final da tarde, veste sua roupa de praticar exercícios físicos e segue caminhando para o Largo da Gameleira, em Tambaú, onde participa das atividades do programa Saúde em Movimento, da Prefeitura de João Pessoa, que incentiva a prática de atividades físicas e acontece em diversos pontos da Capital.
Para Djane, essa rotina é especialmente importante, pois foi por meio desse programa que ela encontrou forças para enfrentar dias difíceis em sua vida. “Depois de ter vivido tanto tempo numa reserva da Floresta Amazônica, mudar para a cidade foi muito difícil. Minha mãe já havia falecido, e mesmo tendo o apoio dos meus irmãos, eu me sentia sozinha. Aos poucos, fui conhecendo pessoas no condomínio onde moro até que uma amiga, que já participava do Saúde em Movimento, me chamou para ir junto”, relatou a costureira, que frequenta as aulas do programa há mais de 10 anos.
Nesse período, Djane não estava exercendo sua profissão plenamente e passava por um quadro de depressão. “No começo, eu não tinha ânimo, estava passando por crises de depressão. Mas minha amiga insistiu tanto que um dia aceitei e foi a melhor decisão que eu poderia ter tomado. No projeto, comecei a dançar, a me movimentar, a rir, a fazer amizades verdadeiras. Ali eu me senti acolhida. Descobri que não estava sozinha”, relembrou.
Em pouco tempo, as aulas proporcionaram mudanças na vida da costureira. “Eu já não ficava mais trancada dentro de casa, passei a ter motivo para sair, conversar e celebrar pequenas coisas. As amizades que fiz se tornaram parte da minha família. Até meu ateliê, que antes estava parado por causa da tristeza, ganhou novo fôlego”, contou.
Em seu ateliê, Djane Antério iniciou novos projetos, a exemplo de produção de máscaras durante a pandemia e aulas de costura. “Hoje, posso dizer que o Saúde em Movimento me ajudou a sair da depressão. É um projeto maravilhoso, porque além da atividade física, ele traz convivência, alegria e esperança. Tenho muito orgulho de participar e de ver como ele transforma vidas, inclusive a minha”, declarou.
Além do programa Saúde em Movimento, a Rede Municipal de Saúde oferece outros projetos que estimulam hábitos saudáveis e a convivência em comunidade como alternativas de prevenção à depressão. Entre os projetos, estão os grupos formados nas unidades de saúde da família (USFs), a exemplo do grupo Saúde Ativa da USF Jardim Saúde, no bairro Jardim Veneza.
Formada há pouco mais de dois meses, a iniciativa reúne moradores da região, reforçando a importância da comunidade no processo de socialização e prevenção ao sofrimento emocional. Os encontros acontecem semanalmente, às quartas-feiras, e contam com atividades com profissional de educação física, além de acompanhamento com fisioterapeuta, nutricionista e psicólogo, por meio de palestras, rodas de conversa e dinâmicas de grupo.
De acordo com o psicólogo André Tavares, que atua na iniciativa, o objetivo do grupo é levar qualidade de vida para os participantes, retirando do sedentarismo e do contexto de isolamento social. “A gente tem uma dinâmica de trabalhar o emocional dos participantes, além de compartilhar informações, levantando alguns pontos para abrir o entendimento das pessoas para sintomas de depressão, ansiedade e outros transtornos. Tudo isso é feito para que as pessoas possam compreender e perceber alguma mudança em seu comportamento, do seu familiar, de seu vizinho e possam intervir de alguma forma”, explicou.
Nas rodas de conversa, por exemplo, cada participante tem a oportunidade de compartilhar suas experiências de vida. “Muitas vezes as pessoas estão passando por conflitos internos e não conseguem falar ou se expressar e aqui proporcionamos essa troca. Ainda há o preconceito de procurarem a psicologia por acharem que psicólogo é profissional para pessoas fracas, então estamos tentando desconstruir isso no grupo”, observou o psicólogo.
Entre os participantes do grupo Saúde Ativa, está a aposentada Maria de Lourdes Monteiro, que há três anos recebeu o diagnóstico de câncer de mama e segue em tratamento. O processo mexeu profundamente com seu emocional. “Eu fiquei muito depressiva, ansiosa, sem conseguir dormir. Precisei tomar remédios para controlar, porque é um peso muito grande”, contou.
Há dois meses, ela passou a frequentar os encontros semanais e já sente uma transformação em sua vida. “Depois que comecei a praticar exercícios, a conversar mais, participar das dinâmicas, tudo mudou. Minha pressão, que estava alta, se normalizou, meu intestino voltou a funcionar e até meu sono melhorou. Mas o mais importante foi o que aconteceu aqui dentro”, contou, apontando para o coração.
Maria de Lourdes afirma que o grupo trouxe acolhimento e esperança em um momento delicado. “Aqui encontrei amizade, companhia e alegria. Esse projeto foi uma bênção para mim e para tantas colegas que também precisavam disso”, destacou. Para ela, as atividades vão muito além da saúde física. “Eu agradeço a Deus e a todos os profissionais da Prefeitura de João Pessoa que estão conosco. Esse trabalho não pode parar, porque faz uma diferença enorme nas nossas vidas. Hoje consigo enfrentar meu tratamento com mais coragem e menos tristeza”, finalizou.
Atendimento psicológico – Quando necessário, os participantes dos grupos de convivência ou outros usuários das USFs são encaminhados para atendimento psicológico nas policlínicas municipais ou centros de atenção psicossocial (Caps), onde recebem acompanhamento especializado.
Saúde em Movimento – O programa atende cerca de 3,5 mil pessoas e está presente em mais de 30 polos distribuídos nos bairros da cidade, incluindo praças, academias e unidades de saúde da família. Para participar, o cidadão deve procurar um dos pontos e fazer cadastro junto ao profissional de educação física. Pela manhã, as atividades funcionam de segunda a sexta-feira, das 5h30 às 7h30. Já à tarde, as aulas acontecem de segunda a quinta-feira, das 17h às 19h. Os locais podem ser consultados através do link: https://www.joaopessoa.pb.gov.br/servico/saude-em-movimento/.