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como mulheres transformam a gestão municipal – CGNotícias

No auditório do Grand Park Hotel, em Campo Grande, a atmosfera foi diferente do que se costuma ver em encontros de finanças públicas. O Elas Governam reuniu prefeitas e secretárias de todo o Brasil para falar sobre orçamento, gestão fiscal e desafios da administração municipal. 

Logo no início, a ex-prefeita de Palmas (TO), Cinthia Ribeiro, fez questão de destacar que ser mulher na política ainda significa enfrentar resistências, mas também traz uma nova forma de fazer gestão: “Nós olhamos para as contas, sim, mas também olhamos para as pessoas. Essa sensibilidade faz diferença no dia a dia das cidades”, disse, arrancando concordância da plateia.

A secretária de Fazenda de Santana do Livramento (RS), Gisela Alvarez, foi direta ao falar sobre os impactos das decisões tomadas em Brasília. “Quando o governo federal aumenta pisos salariais ou altera regras de arrecadação sem compensar, quem sofre somos nós, prefeitos e secretários. Porque é na porta da prefeitura que as pessoas batem pedindo escola, médico, transporte. É nas cidades que a vida acontece.”

De Pernambuco, a prefeita Márcia Conrado, de Serra Talhada, reforçou a importância do diálogo interno. “Planejamento não se faz sozinho. Saúde, Educação, Finanças, Planejamento, todos têm que sentar juntos e entender o que cabe no orçamento. Não adianta cada secretaria puxar para si, é preciso consenso para priorizar a população.”

Já a secretária Michele Roncalio, de Florianópolis, compartilhou sua experiência ao assumir o desafio de equilibrar as contas em meio a pressões sociais. Servidora pública há 21 anos, ela destacou que a governança fiscal não pode ser dissociada da realidade das pessoas. “O orçamento não pode estar separado da vida real. Quando falta medicamento, quando não há professor em sala, é o município que responde. Por isso, integrar técnica e sensibilidade é fundamental.”

Entre as falas mais lembradas do dia, esteve a apresentação do projeto Equalizar Cidades, elaborado por um grupo de secretárias de Fazenda de capitais como Campo Grande, São Paulo, Curitiba, Fortaleza e Recife. O programa, reconhecido nacionalmente, propõe mecanismos para reduzir desigualdades e dar condições fiscais para que municípios menores possam investir. “Hoje, mais de 3.600 cidades não têm acesso a crédito porque não cumprem critérios fiscais. O Equalizar quer mudar essa realidade, criando um ciclo virtuoso de desenvolvimento”, explicou Marcia Hokama, destacando o reconhecimento conquistado.

Entre um painel e outro, ficou evidente que o encontro não foi apenas técnico. Foi também um espaço de apoio e troca, onde as gestoras reconheceram umas nas outras os mesmos dilemas: o orçamento apertado, a pressão política, a necessidade de cortar gastos sem reduzir serviços, a cobrança por resultados imediatos.

“É uma guerra diária, mas também é a oportunidade de mostrar que podemos fazer diferente. Que podemos governar sem medo de cortar onde é preciso e investir onde faz sentido”, resumiu.

A sensação entre as presentes era de que o Elas Governam foi além do debate sobre números. O encontro serviu para reafirmar que a presença feminina na gestão pública não é apenas representatividade: é prática, é transformação e, sobretudo, é coragem de governar com humanidade.

Angélica Fontanari, secretária executiva da Mulher em Campo Grande e uma das responsáveis pela organização do evento, destacou a importância da transversalidade na gestão pública: “Ninguém faz nada sozinho. Cada pasta é importante, mas só avançamos quando unimos saúde, educação, assistência social, finanças e ciência econômica em prol da população”.

Ela apresentou os projetos da Semu, a Secretaria Executiva da Mulher, reforçando que as ações são voltadas a todas as regiões e classes sociais da cidade. Entre eles, o programa Sorriso para a Vida, que oferece tratamentos odontológicos a mulheres em situação de vulnerabilidade, permitindo que retomem autoestima e oportunidades de trabalho, e a SCAPE – Escola de Capacitação para Mulheres, com mais de 112 cursos presenciais e online, que garantem certificação e inserção no mercado de trabalho.

Outro destaque foi a Casa da Mulher Brasileira, primeira unidade do país, que integra serviços de apoio e proteção para mulheres vítimas de violência. Angélica ressaltou que a iniciativa vai além da assistência imediata: “Não se trata só de acolher, mas de transformar vidas. A Casa da Mulher Brasileira, junto com os nossos programas, oferece autonomia, capacitação e segurança, permitindo que mulheres reconstruam suas vidas”.

As mesas temáticas abordaram desde orçamento sensível a gênero e raça até justiça climática, passando por experiências de combate à desigualdade. Um dos momentos mais comentados foi a discussão sobre dignidade menstrual, que reforçou a importância de políticas públicas para garantir acesso a absorventes e cuidados básicos a meninas e mulheres em situação de vulnerabilidade.

Durante o encontro, a secretária da Mulher de Niterói/RJ, Thaiana Pereira, trouxe à tona a importância da diversidade na gestão pública e das políticas voltadas à dignidade menstrual. “Dessas 11 mulheres em cargos de alto escalão, quatro são mulheres pretas. Isso não pode ser exceção. Precisamos olhar para todas as prefeituras e para todos os jovens, reconhecendo a capacidade e a importância de ter mulheres em toda a sua diversidade nos espaços de poder”, destacou.

Ela reforçou que políticas como a de dignidade menstrual só são possíveis em contextos estruturados. Em Niterói, cidade com 457 mil habitantes, 41 mil são adolescentes e mulheres, público-alvo dessas iniciativas. “Falar em absorventes ou coletores menstruais exige infraestrutura básica: 100% da população com água tratada e saneamento em 95% dos domicílios”, explicou, ressaltando a integração entre planejamento, orçamento público e programas sociais.

Além disso, apresentou outros programas da gestão local voltados à emancipação feminina, como o O Cidro Social, que oferece repasse mensal de um salário mínimo a mulheres em situação de vulnerabilidade, e o Espaço Empreender Mulher, que capacita e apoia mulheres empreendedoras. Parcerias com empresas locais também garantem oportunidades para mulheres que enfrentaram violência.

Thaiana ainda mencionou a lei municipal de 2021 que instituiu a Dignidade Virtual, garantindo produtos de higiene pessoal para todas as mulheres, complementando iniciativas federais e ampliando o acesso a direitos básicos. “Nosso objetivo é receber a mulher, mas devolvê-la como protagonista da própria história”, concluiu.

A prefeita de Campo Grande, Adriane Lopes, destacou que o encontro reforça o papel de Campo Grande como articuladora de soluções inovadoras. “Nós sabemos o peso da responsabilidade fiscal, mas também entendemos que gestão pública é cuidar das pessoas. É isso que fazemos em Campo Grande e é isso que este evento mostrou: que as mulheres estão trazendo um novo olhar para transformar as cidades”, afirmou.

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