A Prefeitura do Rio lançou, nesta sexta-feira (16), o novo Plano Municipal de Segurança Viária, que estabelece diretrizes para a proteção no trânsito, especialmente na circulação de motocicletas. Dados da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) mostram uma marca alarmante: 69% dos atendimentos nos hospitais municipais, por ocorrências em vias públicas, são motivados por acidentes envolvendo motos. Para ajudar a reverter esse quadro, o município assinou um acordo de cooperação técnica com aplicativos de entregas para compartilhar dados dos motociclistas para impulsionar políticas públicas voltadas à segurança viária e na organização do sistema de mobilidade do Rio de Janeiro.
Na entrevista coletiva, no Centro de Operações e Resiliência (COR), o prefeito Eduardo Paes anunciou a limitação da velocidade máxima para as motocicletas nas vias da cidade em até 60 km/h; o projeto de implantação de 200 km de corredores exclusivos para motocicletas até 2028, sendo 50 km a serem implantados até dezembro deste ano; e a proibição da circulação de motocicletas nas pistas centrais, que começará em junho deste ano nas Avenidas Presidente Vargas, Brasil e das Américas.
– Estamos preocupados com a vida de quem anda de moto, mas também com o impacto que o desrespeito às regras de trânsito e atos de irresponsabilidade causam na saúde pública. Acabamos deixando de atender pessoas doentes para cuidar de vítimas de algo que poderia ser evitado. É possível evitar tantos acidentes e mortes se todos seguirem regras de trânsito. Motoristas de carro precisam estar atentos às motos, e os motociclistas, por sua vez, devem se posicionar corretamente na via, respeitar as leis e evitar manobras arriscadas. Acredito que conseguiremos baixar os números alarmantes de acidentes com as novas medidas – declarou o prefeito Eduardo Paes.
As iniciativas fazem parte do Maio Amarelo, mês de conscientização para a redução de acidentes no trânsito. O lema do município para este ano é “Desacelere, seu bem maior é a vida”, De acordo com o Instituto de Segurança Pública (ISP-RJ), a cidade do Rio contabilizou 12.900 pessoas feridas e 723 mortes no trânsito em 2024 — uma média de dois óbitos por dia, o maior número desde 2008, início da série histórica.
Acordo de cooperação com aplicativos de entregas
Os acordos entre a CET-Rio, o iFood e a 99, os primeiros do município com aplicativos de entregas, têm como objetivo estabelecer um intercâmbio de informações e dados sobre o sistema de mobilidade da cidade, criar medidas punitivas para condutores infratores e campanhas de educação voltadas a condutores, passageiros e clientes.
A troca de informações reforçará a base de dados que subsidia a tomada de decisão, a construção de políticas públicas e a implementação de ações para aprimorar a segurança viária na cidade do Rio de Janeiro e, dessa forma, proporcionar um trânsito mais seguro, com mais fluidez e maior ordenamento viário. A Prefeitura do Rio conversa com outras empresas de aplicativos de entrega para estabelecer acordos semelhantes.
A CET-Rio terá acesso, por exemplo, a informações como velocidade das motocicletas e bicicletas, tempo de condução, quilômetros rodados pelos entregadores, mapa de calor das entregas. Com os dados dos aplicativos, a Prefeitura do Rio poderá refinar as ações para aprimorar os projetos de novas infraestruturas seguras para ciclistas e motociclistas.
– Assinamos, hoje, esse compromisso com satisfação, porque os dados são alarmantes e exigem ação. Sabemos que não é possível fazer isso sozinhos. O iFood já tem ações de prevenção em curso, mas essa parceria com a Prefeitura e a CET-Rio nos dá acesso a dados mais estratégicos, fortalecendo o que já fazemos para cuidar da segurança viária no Rio – destacou a diretora de Políticas Públicas do iFood, Debora Gershon.
O gerente de Políticas Públicas e Assuntos Governamentais da 99, Luciano Sabino, ressaltou também que a segurança viária é prioridade da empresa:
– Temos uma área dedicada a esse tema e atuamos para melhorar as políticas do aplicativo, com foco nos motociclistas. Com esse intercâmbio de dados com a Prefeitura do Rio, vamos fortalecer ainda mais nosso ecossistema de segurança.
Aumento de mortes no trânsito
Composta por 11 órgãos municipais e liderada pela Secretaria Municipal de Saúde do Rio (SMS), a Comissão Permanente de Segurança Viária do Rio (CPSV) apresentou dados que reforçam a importância das medidas do novo plano municipal. O número de óbitos no trânsito no ano passado foi 43% maior do que em 2019, quando a Prefeitura do Rio firmou a meta de reduzir o indicador à metade até 2030. No caso das lesões provocadas por acidente de trânsito, a alta foi de 17%.
Números da SMS demonstram ainda que o indicador cresce alavancado pela explosão de ocorrências com moto. Em 2024, os hospitais da rede municipal de saúde registraram 20.618 atendimentos a pacientes feridos em acidentes com motocicleta, uma alta de 66% em relação ao ano anterior. Só neste ano, de janeiro a abril, a cidade já registrou 10.094 atendimentos.
– O problema de saúde pública causado por acidentes de moto é gravíssimo, gerando alto custo financeiro e, principalmente, perdas de vidas e sequelas permanentes. Trata-se de um problema evitável, que exige educação no trânsito, respeito às leis e ações de conscientização, tanto por parte da população quanto do poder público – afirmou o secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz.
O perfil das vítimas
Os números indicam também que as colisões e os atropelamentos foram os principais tipos de acidentes com vítimas fatais em 2024. De acordo com o ISP, 40% das mortes no trânsito no ano passado ocorreram por atropelamento, 26% por colisão, 4% por choque, e os demais casos se dividiram entre capotagem e queda. A análise do perfil das vítimas mostra uma face alarmante do problema: 76% das vítimas fatais eram do sexo masculino e 42% tinham entre 20 e 39 anos. Além disso, as zonas Norte, Oeste e a região da Barra/Jacarepaguá concentram a maior parte dos registros de mortes e lesões corporais no trânsito.
A análise revela um importante obstáculo ao cumprimento de um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Organização das Nações Unidas (ONU): reduzir o número de mortes e lesões graves por acidente de trânsito pela metade até 2030. A meta firmada pela comunidade internacional, inclusive o Brasil, motivou a Prefeitura do Rio a lançar a primeira versão do Plano de Segurança Viária, em 2023. A íntegra da nova edição do plano está disponível no site da CET-Rio (https://cetrio.prefeitura.rio/seguranca-viaria/).