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Uso de cannabis na Medicina Veterinária é tema de palestra pioneira no Parque Arruda Câmara

O Parque Zoobotânico Arruda Câmara (Bica), em João Pessoa, sediou uma palestra pioneira sobre “Cannabis na Medicina Veterinária – Explorando Potenciais Terapêuticos e Superando Desafios”. O evento, realizado nesta segunda-feira (13), contou com a participação do médico veterinário Helder Camilo, especialista na área e integrante do Grupo Paraibano de Estudos e Pesquisas em Cannabis.

A palestra reuniu profissionais e estudantes interessados no assunto, destacando os avanços científicos e as possibilidades do uso terapêutico da cannabis no cuidado de animais selvagens. Helder Camilo abordou como o tratamento pode aliviar dores crônicas, controlar convulsões, tratar inflamações e melhorar o bem-estar geral dos pacientes veterinários.

Durante o evento, foram apresentados estudos científicos e casos práticos que evidenciam o potencial do uso de cannabis em tratamentos veterinários. O palestrante também abordou os desafios éticos e regulatórios enfrentados pela área, promovendo uma discussão enriquecedora sobre o tema.

Helder Camilo revelou que, em parceria com o Parque Zoobotânico Arruda Câmara, está iniciando um projeto de tratamento utilizando óleos de cannabis em três animais específicos: um gato-mourisco, uma jaguatirica e um sagui. O objetivo inicial é tratar estereotipias e sequelas de um choque elétrico.

“Estamos elaborando um protocolo baseado em dados já existentes de canídeos e felinos domésticos. Realizamos coleta de dados comportamentais, avaliação clínica e exames laboratoriais para administrar o óleo e acompanhar os resultados. Tudo será realizado com rigor científico para que possamos publicar e compartilhar os protocolos de tratamento com outros profissionais”, explicou Helder Camilo.

Segundo o veterinário, a palestra pode ser considerada a primeira realizada em um zoológico na Paraíba – e possivelmente uma das primeiras no Brasil – desde que a Anvisa autorizou, em agosto de 2024, que médicos veterinários prescrevessem cannabis para animais.

“João Pessoa é uma das cidades mais importantes na produção e beneficiamento de cannabis no Brasil, e é gratificante ver esse avanço chegando também ao cuidado com os animais. Agradeço à Bica, especialmente ao professor Thiago Nery, pelo apoio e parceria nesse projeto pioneiro”, destacou Helder Camilo, que também é professor da Uniesp-JP e proprietário de uma clínica veterinária que já realiza tratamentos com cannabis.

O chefe de divisão do Zoológico da Bica e médico veterinário, Thiago Nery, parceiro do projeto, ressaltou a importância da iniciativa para a saúde e o bem-estar dos animais selvagens. Ele destacou que o uso de cannabis pode ajudar a reduzir o estresse, melhorar a imunidade e prevenir doenças, aplicando conceitos fundamentais de medicina preventiva.

“É um projeto inovador, quando se trata de animais selvagens, porém é algo que a gente já percebe sendo utilizado a nível mundial, com caráter extremamente científico e a gente sabe que um dos desafios dentro da Medicina Veterinária de animais selvagens é a lida com eles que não estão acostumados a esse convívio humano. O bem-estar animal é um dos pilares no zoológico, então se a gente consegue garantir esse bem-estar para esses animais, a gente reduz o estresse e nisso a gente melhora a imunidade deles, então de fato, a gente aplica um conceito básico de Medicina Preventiva, que é evitar que o animal adoeça, e a gente percebe dentro do canabidiol um potencial enorme para isso, então os animais que precisam de cuidados vão ser rigorosamente avaliados, a gente vai filmar e estudar o comportamento para perceber a necessidade, ou não, de usar os óleos nesses animais e fazer avaliação do sucesso, do que precisa ser reajustado. É interessantíssimo a gente saber que os animais da Bica estão participando de um projeto, de fato, de bem-estar animal e qualidade de vida. A cannabis é um princípio ativo extremamente seguro, por isso a escolha do tratamento. Não existe possibilidade de intoxicação”, disse.

Ainda segundo Thiago Nery, “os tipos de produtos que a gente vai utilizar, como pomadas e óleos, são seguros. A população de João Pessoa pode ficar tranquila que não vamos colocar os animais em risco algum, pelo contrário, são todos protocolos que já existem na literatura com outras espécies, a gente só vai adaptar às espécies que nós temos aqui, em animais com problema como ansiedade, animais que se mutilam, que têm comportamentos  repetitivos, com quadro de epilepsia, como a saguii Chokita, que foi vítima de choque elétrico, e, com certeza, esse óleo vai funcionar muito bem para garantir qualidade de vida para ela e os outros”, afirmou.

A palestra marca um importante passo na inovação da Medicina Veterinária em João Pessoa, reafirmando o compromisso com o bem-estar animal e o avanço científico no Brasil.