Rancho Novo é uma pequena localidade de Caeté, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), habitada por cerca de 2 mil moradores. O local pacato é considerado o de mais baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do município e fica no trajeto da MGC-262, caminho para quem se destina a Barão de Cocais.
Durante muitos anos, a população do local conviveu com frequentes transtornos causados, principalmente, pela ausência de infraestrutura viária, o que predestinava a comunidade a um cenário de poucas expectativas.
Mas a poeira da falta de oportunidades está ficando para trás com a pavimentação de 28,5 quilômetros da rodovia realizada pelo Governo de Minas, por meio do Departamento de Estradas de Rodagem do estado de Minas Gerais (DER-MG). O serviço, que já atinge mais de 75% de evolução, deverá ser totalmente concluído no final de 2024.
A chegada do asfalto não está só colocando um ponto final nos problemas de mobilidade: está trazendo esperança de um novo tempo que é vislumbrado por quem vive e ganha o sustento em Rancho Novo.
É o caso da comerciante Meire Márcia Pinheiro, nascida e criada no local. Meire herdou do pai uma pequena mercearia que vende de tudo um pouco. O comércio foi fundado pelo avô de Meire há quase cem anos.
Ela relata as dificuldades que enfrentou ao longo de uma vida toda e se emociona ao recordar da angustia de ficar isolada e não ter como ir para escola nos períodos de chuva.
“Quando chovia eu nem dormia porque não sabia como poderia chegar na cidade no dia seguinte. Eu nasci aqui e nunca me afastei deste distrito. O trajeto até Caeté era diário para estudar, desde criança, e foi assim depois que me formei no segundo grau para continuar a meus estudos e trabalhar. A situação era tão caótica que tinha dias que tentávamos três opções de trajeto para chegar na sede do município e nenhum era possível”, relata.
Na avaliação de Meire o asfalto veio para dar dignidade e tranquilidade para todos do distrito de Rancho Novo, além de trazer novas oportunidades de trabalho na medida que quem contrata um trabalhador que reside na comunidade tem a certeza que ele chegará para trabalhar. “Abriu um leque de possibilidades e o resultado disso nós já estamos sentindo. Até o movimento na minha mercearia já aumentou”, destaca.
A mesma percepção é compartilhada por outro morador e líder comunitário, Cesalino Rodrigues. “A pavimentação trouxe mais mobilidade e vai ajudar a desenvolver a nossa região que hoje vive, basicamente, da atividade rural e postos de trabalho na mineração. A gente sofria muito com a lama e a poeira. Vivíamos períodos de isolamento, principalmente na época das chuvas. O ônibus coletivo e o escolar nunca chegavam no horário e tinha dias que eles nem vinham”, ressalta.
Casado, pai de dois filhos pequenos, Cesalino já vislumbra dias melhores para sua família e para toda a comunidade, com mais mobilidade, geração de empregos e crescimento de oportunidades, sem precisar sair do distrito.
O aposentado Eduardo Paulino, morador há cerca de um ano de Rancho Novo, destaca que a pavimentação do trecho da MGC-262 é a realização de um sonho de muita gente.
“Eu vim de Belo Horizonte e, quando comprei o terreno para construir minha chácara, não tinha asfalto, mas tinha a promessa do Governo de Minas de levar o projeto adiante”, relembra.
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Caminho de prosperidade e geração de emprego e renda
O caminho de prosperidade e de desenvolvimento que passa pela MGC-262 já traz benefícios antes da conclusão das obras e permite a construção de um futuro melhor para alguns moradores da região contratados pela empresa que executa os serviços.
Atualmente, são cerca de 120 empregos diretos gerados na obra e que tem dado a muitas pessoas a possibilidade de recomeçar no mercado de trabalho.
É o caso de Gislene da Conceição Costa, moradora de Caeté. Ela trabalha na no setor administrativo da empresa que executa as obras e fala com orgulho de fazer parte da pavimentação da MGC-262.
“Eu vou contar para as futuras gerações – meus netos e bisnetos- que eu contribuí para a realização do sonho de muitas pessoas. Estou aqui há dois anos e meio e me sinto muito feliz. Eu estava desempregada e meu último trabalho foi em Belo Horizonte, o que se tornava um transtorno pela distância e pelo trânsito difícil até a capital. O fato de trabalhar perto de casa me proporciona mais qualidade de vida e eu posso dar mais assistência para meu filho. Estou há dez minutos da minha casa”, avalia.
Lorena das Graças Silva, técnica em segurança do trabalho é outra moradora de Caeté que foi contratada pela empresa que executa as obras na rodovia.”Eu me formei em 2022 e estava procurando uma oportunidade de trabalho em outras cidades. Neste período, surgiu uma vaga na pavimentação da MGC-262 e eu não pensei duas vezes. Eu já tinha feito meu estágio aqui e eles me contrataram em definitivo. Por ser uma obra grande eu estou ganhando muita experiência. Me sinto feliz e realizada de estar fazendo parte da equipe”, conta.
Outra história é a do operador de máquina Antônio Carlos Valentino, também de Caeté. Há mais de dois anos trabalhando na obra, o profissional estava desempregado há algum tempo.
“Quando a empresa chegou aqui eu busquei uma oportunidade e eu me sinto orgulhoso de estar ajudando a construir algo que vai ser muito importante para meus filhos e meus netos. Saber que cada trecho desta obra eu ajudei a construir dá muita satisfação. Estou muito feliz de ver essa obra sair do papel e estar trabalhando nela. Além disso, eu me sinto amparado porque o salário chega todo mês e eu posso levar o sustento para minha família, conclui.
Benefícios diretos da pavimentação do trecho
As melhorias na MGC-262 vão beneficiar diretamente uma população estimada em 110 mil habitantes dos municípios de Caeté, Barão de Cocais e Santa Bárbara.
O engenheiro e professor associado da Fundação Dom Cabral, Ramon Victor César, destaca alguns impactos positivos da pavimentação do trecho. Em sua avaliação, a garantia de um acesso qualificado permite a criação de oportunidades econômicas e sociais, tanto durante a obra quanto depois de concluída.
“Mais que um investimento econômico, a pavimentação de uma rodovia garante cidadania e desenvolvimento para as pessoas. Por meio dela, as pessoas vão chegar mais rápido a hospitais; acessar escolas e universidades, chegar aos seus destinos com segurança e tranquilidade. Além disso, a construção de uma estrada permite ampliar o potencial agrícola, turístico e imobiliário da região”, garante.
“A infraestrutura adequada que está se formando vai incentivar o turismo religioso, ecológico e histórico, uma vez que o trecho faz parte do circuito Estrada Real e vai facilitar o acesso ao Santuário Basílica Nossa Senhora da Piedade e ao Santuário do Caraça. Outro aspecto importante é que o segmento está inserido em uma das dez regiões caracterizadas pelo Estado como produtoras de Queijo Minas Artesanal: entre as Serras da Piedade e do Caraça”, completa.
A rodovia também servirá como rota alternativa para quem circula pela BR-381, já que o trecho da rodovia federal entre Caeté e Belo Horizonte ainda não foi duplicado.
Acesso e qualidade de vida
No trajeto de 28,5 quilômetros são realizados melhoramentos, pavimentação, implantação e restauração da via. As obras contemplam ainda o contorno de Barão de Cocais, construção de viaduto sobre a ferrovia da Vale e instalação de viaduto metálico sobre a Ferrovia Centro Atlântica (FCA). Mais de 20 quilômetros já estão pavimentados.
As equipes de trabalhos são divididas em várias frentes, que executam terraplenagem, drenagem, pavimentação e sinalização viária, simultaneamente, aproveitando o período de estiagem. As intervenções fazem parte do Provias e conta com investimento total de R$ 138 milhões.
Para o diretor-geral do DER-MG, Rodrigo Tavares, a pavimentação da MGC-262 é fundamental para garantir a qualidade de vida na região. “Com esta obra, estamos garantindo que todos possam exercer seu direito básico de ir e vir, desfrutando de espaços públicos de maneira digna. Além disso, o setor rodoviário movimenta a economia”, ressalta.
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Meio ambiente e turismo
Atenta ao potencial turístico da região, a equipe da Assessoria de Meio ambiente do DER-MG, órgão responsável pela condução de todos os projetos que envolvem as obras na MGC-262, incluiu no licenciamento ambiental, além do que determina a legislação, a construção dois mirantes no trajeto: Mirante da Serra da Cambota e Mirante da Cachoeira da Cambota. Durante o passeio pela região, o turista poderá parar nesses locais e contemplar a natureza.
Outro diferencial da obra na região é a construção de oito passagens para animais silvestres ao longo dos 28,5 quilômetros, medida importante que evita atropelamentos de animais na pista. Antes e durante a obra o trecho é monitorado por diversos profissionais ligados ao projeto ambiental.