O projeto “Conversas com Cinema” está ajudando a transformar vidas dentro do Estabelecimento Penal Feminino de Regime Semiaberto e Aberto de Campo Grande. Idealizada pela cineasta Geiciane Feitosa, a iniciativa exibe filmes e curtas-metragens brasileiros, promovendo acolhimento e reflexão através da sétima arte. A ação conta com o apoio da Agepen (Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário).
A cineasta, que iniciou sua jornada no Audiovisual da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), se inspirou durante seu estágio no projeto de extensão “O audiovisual na cidade: construindo o conhecimento a partir de imagens e sons”, liderado pela professora Daniela Giovana Siqueira, que levava sessões de cinema às escolas de Campo Grande. Essa experiência a motivou a criar o “Conversas com Cinema” como seu TCC (Trabalho de Conclusão de Curso).
“Vi um potencial muito grande para as internas conhecerem como funciona o cinema. Então, escrevemos um projeto para ser beneficiado pela “Lei Paulo Gustavo”, de incentivo à cultura, junto com meu colega de profissão Lukas do Nascimento. Com essa verba, compramos materiais necessários e pagamos a participação de convidados”, detalha.
O projeto foca na exibição de produções regionais e nacionais, priorizando histórias que promovam reflexão e identificação com as vivências reais das detentas. “Fazemos curadoria de filmes nacionais, explicamos todo o processo de produção e, após o filme, realizamos discussões”, pontua.
A escolha de trabalhar com mulheres presas surgiu inicialmente como uma definição da UFMS, mas a continuidade do projeto se deu pela vontade de contribuir com a ressocialização através do cinema. “Elas veem que existem outras possibilidades. A gente se vê nessas histórias, reflete e muda pensamentos. São pessoas que não são vistas pela sociedade, e esse projeto é uma forma de mostrar que elas também precisam de acesso à cultura”, afirma Geiciane, destacando que a iniciativa também oferece um espaço seguro para que sejam ouvidas.
Na opinião da diretora do presídio, Cleide dos Santos Nascimento, iniciativas como essa são necessárias e importantes no ambiente prisional. “Elas tiram as internas do ócio e trazem novas possibilidades, fazendo com que enxerguem o mundo lá fora com novos olhos. Com o trabalho de acolhimento oferecido, conseguimos resultados positivos, e a participação acaba sendo maior que a rejeição aos projetos”, pontua. A cada 12 horas de atividades, como as sessões de cinema, elas ganham um dia a menos de pena.
Uma das beneficiadas pelo projeto “Conversa com Cinema”, que atende, em média, 20 internas por sessão, R.S.D., de 56 anos, encontrou força para cumprir sua pena através das iniciativas oferecidas. “Temos vários cursos aqui e a orientação das servidoras. Esse projeto do cinema traz um incentivo pra gente. Quando participamos, percebemos que somos importantes para a sociedade também”, afirma.
Além do cinema, a unidade penal oferece outros projetos para incentivar a educação, como a remição de pena por leitura. As detentas também participam de palestras, atividades com psicólogos e rodas de conversa.
Atualmente, cerca de 100 mulheres cumprem pena no regime semiaberto em Campo Grande, e 90% delas exercem atividades laborais remuneradas.
Comunicação Agepen