DownloadArquivo pessoalO administrador de empresas Márcio Horemans e sua esposa, a médica Jurema Horemans
O administrador de empresas Márcio Horemans e sua esposa, a médica Jurema Horemans, moravam no bairro da Vila Madalena, na zona Oeste de São Paulo, mas no início de 2020 decidiram mudar de vida.
Amante das plantas, o casal se mudou para um sítio na Serra da Cantareira e, com a orientação e acompanhamento dos técnicos de extensão rural da Casa de Agricultura de São Paulo, passaram a produzir e vender ervas aromáticas, flores comestíveis e plantas medicinais. Tudo isso por meio de uma produção com boas práticas sustentáveis.
“A Jurema chegava todos os dias em casa com vasos, mudas e sementes. A gente plantava mais para o nosso próprio consumo, porque a gente gostava. E com a pandemia acabou virando um negócio”, conta Márcio.
O processo de transição agroecológica consiste em colocar em prática o conceito de que áreas cultivadas também são ecossistemas e que, portanto, abrigam processos como ciclagem de nutrientes, relações de cooperação, reprodução, migração, sucessão ecológica, germinação, floração, polinização e dispersão de sementes e frutos, entre outros, como ocorre em ecossistemas nativos.
O objetivo é que, com essas práticas, as propriedades passem a produzir melhor e com menor impacto negativo ao ambiente, gerando equilíbrio ecológico, sustentabilidade e menor consumo de insumos externos. Isso é feito com o acompanhamento de um técnico habilitado e capacitado de alguma instituição de assistência técnica e extensão rural, organizações da sociedade civil ou prefeituras, que acompanham e assessoram os produtores durante as diferentes etapas do processo do Protocolo de Transição Agroecológica, que pode durar até cinco anos.
“Os técnicos nos ajudaram bastante na parte de análise de solo, deram algumas dicas e estão nos acompanhando. Com isso, nossos clientes vão entender que o produto tem um valor agregado melhor”, comemora o produtor Marcos Horemans.
Governo do Estado de São Paulo · Boletim: Programa apoia pequenos agricultores para plantio sustentável – 20/06/2023
O programa
O programa é realizado por meio de parceria entre as secretarias de Agricultura e Abastecimento e do Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística, além de entidades da sociedade civil, representadas pelo Instituto Kairós. Em vigor desde 2017, o protocolo foi adotado por quase 500 produtores de diversas regiões do estado, sendo que mais de 150 já receberam um certificado de Transição Agroecológica.
“Para ser orgânico, o produtor precisa ser certificado e passar por todo um processo. Aqui no estado, a gente percebe que se o agricultor não tiver um apoio, é muito difícil ele passar por esse sistema. Não é simplesmente deixar de usar agrotóxico, ele tem que adotar várias práticas”, explica Araci Kamiyama, especialista ambiental da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI), órgão da Secretaria de Agricultura e Abastecimento.
Para a médica e produtora rural Jurema Horemans, o certificado será fundamental na hora de vender os produtos aos clientes. “A compostagem, o não uso de pesticidas, as abelhas sem ferrão usadas para polinização, o esterco das galinhas, todo esse circuito faz com que você tenha um produto muito diferenciado”.
No último dia 16 de junho, as equipes de extensão rural do Protocolo de Transição Agroecológica participaram da Feira Internacional de Produtos Orgânicos e Agroecologia BioBrazil Fair 2023, no Anhembi, zona norte da capital. O evento serviu para apresentar resultados e entregar certificados a produtores rurais participantes do programa.
“Cliente vai saber que estamos no caminho certo”
A dona Maria José Marques foi uma das produtoras que recebeu o documento. Ela trabalha em uma cooperativa que funciona dentro de um assentamento em Mogi das Cruzes, na região metropolitana de São Paulo. Seu principal cliente é um hotel da região, que prioriza a compra de hortaliças cuja cadeia de produção obedeça a boas práticas sustentáveis.
Diante disso, técnicos da Regional de Mogi das Cruzes da CATI passaram a orientar a cooperativa para a adoção de práticas agroecológicas no plantio de couve, cenoura, abobrinha, alface, entre outros. No atual momento da transição, o trabalho está focado na conservação do solo. Dona Maria e outras produtoras também tiveram treinamentos de produção de bioinsumos e biofertilizantes.
“Foi muito bom para mim, porque eu já estava correndo atrás para fazer uma transição para o orgânico e não mexer com fertilizantes químicos. E a secretaria está dando uma força muito grande para a gente”, diz a agricultora. “Receber esse certificado é muito importante. Agora, quando eu levar a nossa mercadoria para o cliente, vou levar o certificado junto, para ele ver que estamos no caminho certo”, completa.
Hospital também adota protocolo
Os tipos de produção são variados. Um dos “agraciados” pelo certificado de transição agroecológica, por exemplo, foi o Hospital Dr. Adolfo Bezerra de Menezes, de São José do Rio Preto.
“Começamos com compostagem e com biofertilizantes. As verduras produzidas na horta são consumidas no hospital mesmo, mas uma parte também é vendida. Além disso, alguns pacientes participam do plantio como forma de terapia”, explica a engenheira agrônoma da CATI Regional São José do Rio Preto, Adriana Secco Brigatti, que presta a assessoria técnica para a unidade.
“Um documento oficial da secretaria tem um peso enorme, é importante não só para vender, mas também para as famílias das pessoas que estão internadas. É uma garantia de que o ente querido está recebendo uma alimentação de qualidade. E para o hospital não tem custo”, completa a técnica.
Assessoria técnica atrai produtor de bananas
Ao todo, mais de 150 técnicos de todo o Estado de São Paulo estão habilitados para prestar a assessoria e capacitação aos produtores que aderem ao Protocolo de Transição Agroecológica.
E foi justamente essa assessoria técnica o que atraiu o produtor de banana nanica Alfred Erbert para a adoção do protocolo. Adepto de longa data do movimento orgânico, ela afirma que sua propriedade em Socorro, no interior paulista, já adotava práticas como a total ausência de agrotóxicos, mas que o acompanhamento de um profissional faz a diferença.
“Mais da metade da minha propriedade é de mata regenerada e eu já não uso defensivos agrícolas. Com esse movimento, de alguma forma, isso já fica mais oficializado. Mas o mais importante é a assessoria técnica. Por mais que você corra atrás de conhecimento, precisa ter o suporte de alguém que saiba mais, isso é fundamental”, explica.
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