Corridas de camelo são destaque no deserto e animais recebem tratamento especial
Quem divide os espaços com os animais, em quartos minúsculos, são trabalhadores estrangeiros
No Brasil, há uma diferença entre o animal com uma ou duas corcovas
Categorias: Futebol Mundo
Por: Agência Estado, 30/11/2022
São Paulo, SP, 30 – Nas ruas de areia da entrada de Al-Shahanyia, cidade com maior extensão do Catar, o clima é desértico. Nada mais adequado para a maioria dos habitantes dela: os camelos, chamados de hejen em árabe. Eles estão em toda parte, ocupam um distrito inteiro e vivem em propriedades que operam como estábulos do animal símbolo do país.
Quem divide os espaços com os animais, em quartos minúsculos, são trabalhadores estrangeiros responsáveis por treiná-los diariamente e deixá-los nos cascos para as competições frequentemente organizadas na pista de 10 quilômetros que atravessa o município.
No Brasil, há uma diferença entre o animal com uma ou duas corcovas. Com uma é chamado de dromedário e com duas, de camelo. Acontece que na Península Arábica a classificação é diferente. O camelo-árabe possui uma corcova e o com duas é chamado de camelo.
No Catar, os donos dos camelos geralmente vivem em Doha. O pequeno comércio que existe entre as propriedades em Al-Shahanyia também é dedicado ao animal, como lojas veterinárias e de ferramentas. Há lugares onde uma grama especial é cultivada para ser servida a eles e com o intuito de mantê-los bonitos e com alimentação balanceada para competirem. Natural de Bangladesh, Arel Karion cuida de uma plantação e diz que os camelos de Al-Shahanyia são valorizados no Catar e que alguns têm pedigree de campeão nas corridas e recebem tratamento especial.
TECNOLOGIADesde 1988, funciona em Al-Shahanyia o Comitê de Corridas de Camelos, que trabalha para manter uma tradição que remonta aos tempos em que o país era um deserto habitado por beduínos que tinham os camelos como companheiros e forma de transporte. Outro objetivo é desenvolver a corrida profissionalmente, com prêmios em dinheiro aos dez primeiros colocados em cada competição.
Um dos diretores do comitê, Mohamad Khaiir, lembra que, de 1973, ano da primeira corrida no Catar, muita coisa mudou. “Até 1992, crianças e adultos costumavam correr em cima dos animais. Por causa da pressão de órgãos de Direitos Humanos, essa prática foi proibida e, desde então, começamos a usar robôs, comandados por controles nas mãos dos donos dos camelos. Eles seguem a competição em seus carros e animais bem treinados conseguem identificar as vozes e comandos dados a ele.” As competições são transmitidas pela TV estatal e pela internet.
Só são aceitos nas corridas donos de camelos que sejam catarianos ou de outros países que formam o Golfo Arábico. A família real do Catar gosta muito do animal e a pista de Al-Shahanya, única no país, foi construída por ordem do ex-emir Hamad bin Khalifa, no fim dos anos 1980.
RIVALIDADES REAIS“Muitos membros da família Al-Thani possuem camelos com pedigree. O emir tem em sua guarda soldados que cavalgam o animal e desfilam pelas ruas do Catar para exibi-los. Há no Golfo uma rivalidade entre as famílias reais dos países da região para saber qual delas possui os melhores e mais bonitos animais”, conta Mohamed, que explica que são organizados festivais e torneios em toda a região para que os melhores e mais velozes camelos, que têm as pernas finas e longas, sejam exibidos e possam disputar milhões de dólares.
As duas maiores corridas do Catar são disputadas em dezembro – a do Fundador, em homenagem ao primeiro emir da nação, Jassim Bin Mohammed Al Thani, e o Grande Festival Anual. O vencedor da primeira competição recebe, além da premiação em dinheiro, uma espada do emir pai, Hamad. Já o campeão do festival ganha, junto com o prêmio em dólares, a espada do emir catariano Tamim bin Hamad, como símbolo de que aquele animal é o melhor da região. Nas grandes competições, uma comissão formada por beduínos elege o “Mr. e a Miss camelo” como sendo os mais bonitos em quesitos como caminhar mais elegante e pelagem mais bem tratada.